DA DIFERENÇA ENTRE
CONSTRUIR E SÓ TER RAIVA
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Postado por Maia at 00:26 sob Uncategorized
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"Este blog é um espaço de divulgação e de debate.
Acabei me sentindo na obrigação de publicar esta nota, tendo em vista que agi com mão pesada nos últimos dias em relação a comentários postados.
II
É um espaço de debate, sem dúvida, de propostas de soluções, com a delicadeza de quem é um advogado – e que respeita profunda e sinceramente as representações associativas e sindicais. Como a questão jurídica e seus desdobramentos geram expectativas e debates, abre-se o espaço para a discussão.
III
Luta política é uma coisa. Mobilização é uma coisa.
Ofensas gratuitas e pura expressão de raiva são outra coisa.
De uma forma, se é sujeito: se age, se briga, se mobiliza; da outra forma, se é um objeto.
Na primeira se age; na outra, se é apenas espectador.
IV
A injustiça é uma doença. Contra elas tentamos vários remédios: há o remédio do Judiciário, não raro tardio; há o remédio político, trabalhoso.
Enfrenta-se a injustiça como quem enfrenta uma doença. Se um remédio falhar, aumenta-se a dose, a duração do tratamento, ou busca-se outro remédio.
Não se pragueja contra o remédio. Ninguém sai a xingar o remédio anterior. Aprende-se com a experiência, e segue-se adiante.
Se o remédio era para funcionar em 60 dias, e ainda não funcionou, mas há esperança de que funcione em mais trinta, é nossa escolha optar ou não por essa continuidade. O que não fazemos é apedrejar o remédio.
V
Vejo muita confusão a respeito do que seja opinião política. Temos pouca história de luta pela cidadania, e talvez por isso exista essa confusão. De um lado, uma longa ditadura. De outro, uma pregação constante contra os movimentos sociais.
E, sempre, um preconceito existente contra quem defende seus direitos de forma coletiva. O resultado é o que simples praguejar, para alguns, é tido como manifestação política. E isso lembra o que Brecht escreveu a propósito do analfabeto político.
VI
Pois não é. O mero praguejar, a mera expressão da raiva, não é uma manifestação política. Provavelmente seja o contrário disso. O que se vê, na internet, de emails praguejando, mas que nada propõem, nada mobilizam, nada conscientizam, é impressionante. Viram uma explosão de raiva, tão só.
E ressalto: manifestação política é aquela que une, que aglutina, que busca transformar pelo convencimento, pela mobilização e pela pressão. Cheguei a ver uma manifestação que critica o governo por “pensar só no pré-sal”. Ou seja, é uma tentativa de transformar todos os nacionalistas, todos os brasileiros de coração, em inimigos. Um tema dessa relevância está em discussão, mas não interessa. O que interessa é apenas fazer muxoxo.
VII
O blog é, sim, um espaço de discussão, inclusive política.
Mas a mera explosão da raiva, ou o “praguejar contra o remédio”, não á construção de uma alternativa política ou mesmo de alternativa jurídica. O prazo dado se esgotou, sim.
Os senadores estão trabalhando, pressionando, buscando construir alguma coisa sobre o que já foi feito até aqui. Nâo há cor partidária, nesse sentido.
Há um esforço comum. Só que esses que estão colaborando também acabam sendo vítimas de comentários raivosos, absolutamente destrutivos, que nada mais fazem do que tentar afastar os aliados que foram duramente conquistados durante esse período.
VIII
O último prazo dado acabou, sim. E foi dito que na próxima semana haverá uma reunião da AGU e, a seguir, uma reunião no Senado. Há frustração, claro, em relação a isso. Queríamos que fosse mais rápido, levamos as propostas absolutamente prontas tanto do ponto de vista jurídico quanto do ponto de vista orçamentário à União.
Só que a União não se resolveu ainda. Tão somente nesta última semana é que as Delegacias Regionais da Receita Federal encaminharam os dados que faltavam, e isso é que viabilizará a próxima reunião do Grupo de Trabalho. Já há dor suficiente, já há frustração suficiente, para que alguém conte as horas e saia a bradar o que todos já sabem: “o tempo acabou”.
Acabou, sim, todos sabemos disso. E todos estamos fazendo esforço para que se construa o convencimento frente ao Governo.
IX
Às vezes parece que há gente que tem prazer em dizer: “eu não disse? Era enrolação, não há futuro algum”. E nada é proposto no lugar. Ou é proposta a continuidade de um julgamento onde estamos perdendo por 4 votos até agora.
Esse tipo de manifestação é só expressão de raiva. Nada constrói. E não raro é uma manifestação infantil.
E mais frequentemente é uma manifestação despolitizada: é como se problema não fosse “nosso”: fosse “deles”. “Eles”, seja lá quem forem, inclusive os que estão do nosso lado, é que se virem para construir alguma coisa.
Ou seja, não é uma manifestação cidadã, não é uma manifestação altiva, porque apenas se espera algo de outros. Não estamos inseridos “nos outros”: estamos no aguardo, sempre, de que “alguém faça algo por nós”.
Por isso é despolitizado, por isso é mera manifestação de raiva, por isso não é construtivo, e por isso frequentemente é pueril, é só bater o pé e esperar ser atendido. Não é algo altivo, cidadão, reivindicador, mas um muxoxo raivoso.
X
Na explosão da raiva que não constrói, houve xingamentos para todos os lados.
No que isso convence? No que isso propõe? No que isso constrói?
No que isso facilita uma próxima audiência com alguém que fatalmente opinará no andamento das coisas? No que isso atrairá aliados?
Por que alguém se declarará favorável à causa se no primeiro entrave também será objeto de achincalhamento?
XI
Daí a explicação que devia.
O blog acaba, sendo, sim, um espaço político. Mas não é um espaço da raiva que nada constrói, da raiva destrutiva, da raiva que tenta afastar até mesmo os aliados que foram conquistados nesse período. Daí que decidi que vou vetar esses comentários de mera expressão de raiva porque nada vêm construindo.
O que foi um espaço para o desabafo se transformou em um festival de raiva insana.
Quando há proposta, quando há indagação, quando há exposição de sofrimento, é uma coisa. Quando é mera explosão de raiva, é outra. É uma raiva que joga contra, que deixa prostrado quem já está fraco. Não é hora de prostração.
Estamos em pleno jogo, em franca articulação, em convencimento crescente.
É hora de construir".
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