sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Negócios com os novos inimigos
*Maurício Medeiros
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Deflagrada recentemente, a campanha midiática a favor da moralização do Senado deveria ser encampada pelos brasileiros. Porém, quando analisamos as digitais dos organizadores da gritaria moralista surgem dúvidas sobre a legitimidade dos “revoltados”.
No mês de junho, a Rede Globo lançou todo seu ódio ao presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB/AP), repercutindo diariamente supostos envolvimentos dele e de seus familiares nos mais diversos crimes de favorecimento.
No auge da “crise do Senado”, a bola da vez foi o senador Fernando Collor (PTB/AL), que travou forte embate com o par Pedro Simon (PMDB/RS). Coincidentemente, os dois ex-presidentes foram alvos da já conhecida fúria global. Reportagens, debates no Fantástico e nas novelas e o humorístico Casseta&Planeta foram utilizados pela Vênus Platinada em sua campanha de “moralização” do Congresso Nacional.
Voltando no tempo, mais precisamente no final da década de 80, observamos que a cobertura jornalística da emissora carioca era completamente diferente. Sarney era o presidente e Collor governava o Estado de Alagoas. Todas as noites o Jornal Nacional apresentava o governador alagoano (ele nasceu no Rio de Janeiro) como o Caçador de Marajás.
O início de 1989 anunciava a primeira eleição direta para presidente do Brasil após o término da Ditadura Militar. O cadáver político de Sarney era renegado por todos. Sem opção, a Globo esqueceu Aureliano Chaves (representante do PFL e dos resquícios do golpe), Mário Covas (São Paulo não poderia ficar sem candidato e os tucanos ainda não eram os queridinhos dos Marinhos), Afif Domingos (aquele do “juntos chegaremos lá”), Paulo Maluf (naquela época ele já estava queimado) e investiu na campanha do candidato “coLLorido”.
No segundo turno, após um primeiro pleito com 21 candidatos e dois cancelados pela Justiça Eleitoral (Sílvio Santos e Armando Correia, ambos do PMB), Lula e Collor seriam escolhidos pela população brasileira. O resto não precisa lembrar, porque como diz Mino Carta, até o reino mineral já sabe.
Não é preciso ser nenhum articulista político para detectar os movimentos da família Marinho para se purificar da jornada coLLorida de 1989. A campanha da Globo para defenestrar os dois senadores torna-se mais estranha ainda quando lembramos quem são os parceiros comercias dos Marinhos no estados de Alagoas e Maranhão.
Na terra governada por Fernando Collor na década de 80, a retransmissora do sinal global é da TV Gazeta, canal 7, comandada pelo Grupo Arnon de Mello. No Maranhão, os embalos de Xuxa e os gritos de Galvão Bueno, por exemplo, são distribuídos pela Rede Mirante, comandada pela família Sarney.
A lógica global é simples: os negócios ficam à parte do escrúpulo daqueles que nós execramos todos os dias em nossa programação. Eles não servem mais para fazer política, mas são bons parceiros comerciais. Passar bem!
*Maurício Medeiros é jornalista.

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