Paul Krugman:
Os bancos não estão bem
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Foi a melhor das épocas, foi a pior das épocas. Certo, talvez não literalmente o pior, mas definitivamente foi ruim. E o contraste entre a imensa boa sorte de poucos e o sofrimento contínuo de tantos é de mau agouro para o futuro. Estou falando, é claro, sobre o estado dos bancos.Por Paul Krugman, do The New York Times, na Terra MagazineOs poucos sortudos ganharam grande parte das manchetes, já que muitos reagiram com fúria ao espetáculo da Goldman Sachs registrando lucros recorde e pagando bônus gigantescos mesmo que o resto dos EUA, vítima de uma de uma depressão criada em Wall Street, continue a perder empregos.
Foi a melhor das épocas, foi a pior das épocas. Certo, talvez não literalmente o pior, mas definitivamente foi ruim. E o contraste entre a imensa boa sorte de poucos e o sofrimento contínuo de tantos é de mau agouro para o futuro. Estou falando, é claro, sobre o estado dos bancos.Por Paul Krugman, do The New York Times, na Terra MagazineOs poucos sortudos ganharam grande parte das manchetes, já que muitos reagiram com fúria ao espetáculo da Goldman Sachs registrando lucros recorde e pagando bônus gigantescos mesmo que o resto dos EUA, vítima de uma de uma depressão criada em Wall Street, continue a perder empregos.
No entanto, não se trata de um simples caso de bancos prosperando versus trabalhadores em sofrimento. Os bancos que estão realmente no negócio de empréstimo, em oposição àqueles que estão realizando investimentos, ainda estão com problemas.
Mais particularmente, o Citigroup e o Bank of America, que silenciaram as conversas sobre a nacionalização no início deste ano dizendo que tinham voltado à lucratividade, estão agora - como vocês adivinharam - novamente registrando perdas.Pergunte às pessoas no Goldman, e elas dirão que não é da conta de ninguém, além delas próprias, quanto ganham. Contudo, como recentemente um crítico disse:
"Não há instituição financeira hoje que não seja, direta ou indiretamente, beneficiária de trilhões de dólares do apoio de contribuintes para o sistema financeiro". Na verdade, a Goldman fez muito dinheiro em suas operações de comercialização, mas só conseguiu se manter no jogo graças às políticas que colocaram vastas quantias de dinheiro em risco, do resgate ou dos fundos de ajuda para a AIG às garantias estendidas a tantos títulos da Goldman.Então, quem era este crítico bancário tão ruidoso?
Ninguém menos do que Lawrence Summers, o economista-chefe do governo Obama - e um dos arquitetos da política bancária do governo, que até o momento tem sido a de auxiliar as instituições financeiras e esperar que elas se consertem sozinhas. Por que a mudança de tom? As autoridades do governo estão furiosas com a indústria financeira, que, apenas alguns meses depois de receber fundos de ajuda gigantescos dos contribuintes, está fazendo um forte lobby contra reformas sérias.
Contudo, você deve estar se perguntando o que eles esperam que aconteça. Eles seguiram uma política muito suave, oferecendo ajuda com alguns compromissos, quando toda a Wall Street estava na corda bamba; isso os deixou com muito pouco poder de negociação com firmas como a Goldman, que estão novamente fazendo muito dinheiro.No entanto, existe um problema ainda maior: enquanto o lado ladino da indústria financeira, também conhecido como operações de investimento, está altamente lucrativo novamente, a parte da indústria bancária que realmente interessa - o empréstimo, que abastece o investimento e a criação de empregos - não está.
Os bancos-chave permanecem financeiramente fracos, e sua fraqueza agora está afetando a economia como um todo.
Você deve lembrar-se que no início deste ano houve um grande debate sobre como fazer com que os bancos comecem a emprestar novamente. Alguns analistas, como eu, argumentaram que ao menos alguns dos grandes bancos precisavam de uma grande injeção de capital dos contribuintes, e que a única forma de fazer isso era nacionalizar os bancos mais problemáticos temporariamente.
O debate perdeu força; no entanto, depois disso, o Citigroup e o Bank of America, os elos mais fracos do sistema bancário, anunciaram lucros inesperados. Tudo estava bem, como nos disseram, os bancos voltaram a ser lucrativos.No entanto, algo engraçado aconteceu na volta a um sistema bancário sadio: na última semana, o Citigroup e o Bank of America anunciaram perdas no terceiro trimestre. O que houve?Parte da resposta é que aqueles lucros precoces eram parte de uma fábula da imaginação dos contadores. Mais amplamente, no entanto, estamos buscando retorno da economia real.
Na primeira fase da crise, Main Street foi punida pelos atos condenáveis de Wall Street; agora, a ampla tensão econômica, especialmente o persistente alto índice de desemprego, está levando a grandes perdas nos empréstimos hipotecários e cartões de crédito.É o seguinte: a contínua fraqueza de muitos bancos está ajudando a perpetuar a tensão econômica.
Os bancos permanecem relutantes aos empréstimos, e o crédito apertado, especialmente para pequenas empresas, está no caminho da forte recuperação da qual precisamos. E agora? Summers ainda insiste que o governo fez a coisa certa: mais fornecimento de capital por parte do governo, ele alega, não teria sido "uma estratégia benéfica para a resolução dos problemas". Que seja; de qualquer forma, como questão política, o momento para a tomada de ações radicais em relação aos bancos claramente passou.
A questão principal para o momento é provavelmente fazer todo o possível para dar apoio ao crescimento no emprego. Com sorte, isso vai criar um círculo virtuoso no qual uma economia melhor fortalece os bancos, que então se tornam mais dispostos a emprestar.Além disso, nós desesperadamente precisamos aprovar uma reforma financeira eficaz, pois, se não o fizermos, os banqueiros vão logo aceitar riscos ainda maiores do que aceitaram no período anterior à crise. Afinal, a lição dos últimos meses foi bem clara: quando os banqueiros apostam com o dinheiro de outras pessoas, eles ganham se der cara e o resto de nós perde se der coroa.
Paul Krugman é economista, professor da Universidade de Princeton e colunista do The New York Times. Ganhou o prêmio Nobel de economia de 2008.
Artigo distribuído pelo New York Times News Service.
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