segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Lucros e demissões nos bancos
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Entra ano, sai ano e os bancos continuam lucrando muito no Brasil, com escassas contrapartidas sociais. Em 2009 não foi diferente. Eles não foram atingidos pela crise financeira mundial, ficaram ainda mais concentrados em grandes instituições, seguiram praticando altas taxas de juros, tarifas abusivas e spread (a diferença entre o custo de captação e de empréstimo do dinheiro) elevadíssimo e cortaram empregos.
Os números apurados até o terceiro trimestre antecipam nova safra de ganhos astronômicos. Os cinco maiores bancos acumularam lucro líquido de R$ 22,1 bilhões, a maior rentabilidade da economia brasileira. No mesmo período, entretanto, eles fecharam 2.076 postos de trabalho, segundo levantamento trimestral elaborado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Os bancos desligaram 22.803 bancários e contrataram 20.727. É uma inversão do que ocorreu nos primeiros nove meses do ano passado, quando houve um aumento de 14.366 vagas (44.614 contratações e 30.248 dispensas).
O estudo toma por base dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. Os dados do Caged não permitem separar as contratações e desligamentos por instituição, mas apenas por segmento do sistema financeiro: bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos de investimentos e caixas econômicas.
Como neste último segmento só existe a Caixa Econômica Federal, que abriu só no primeiro semestre um total de 3.172 empregos, e não tem havido demissões no Banco do Brasil e outros bancos públicos, a conclusão é de que o fechamento de vagas está mesmo concentrado nos bancos privados, principalmente por causa dos processos de fusão do Itaú Unibanco e do Santander e Real, ainda em andamento.
Os bancos andam, portanto, na contramão do movimento que a economia brasileira está trilhando. Enquanto os demais setores criaram 932 mil postos de trabalho de janeiro a setembro com a retomada do crescimento, os bancos, que não sofreram nenhum impacto com a crise, fazem o contrário, revelando que responsabilidade social virou apenas peça de marketing. A pesquisa mostra ainda que os bancos usam a rotatividade para reduzir a média salarial dos trabalhadores - a remuneração média dos admitidos é 41,28% inferior à dos desligados.
Além disso, eles mantêm a discriminação em relação às mulheres, que estão sendo contratadas com salários 30,21% inferiores aos dos homens. Além de impactar os trabalhadores, essa política dos bancos é nociva também a toda a economia brasileira, uma vez que cobra os mais altos juros e spread do planeta.
Os bancos estrangeiros abusam dos clientes brasileiros, ao contrário do que fazem em seus países de origem.
O Santander cobra 10,81% de taxa anual de juros total sobre empréstimos pessoais na Espanha, e 55,74% no Brasil. Na mesma modalidade de empréstimo, o HSBC cobra taxa de 6,60% no Reino Unido e 63,42% no Brasil.
Por isso, os trabalhadores seguirão defendendo em 2010 a regulamentação do sistema financeiro, visando definir funções, estabelecer controles, baratear o crédito e estimular a produção para a geração de empregos e o desenvolvimento.
Também cabe aos bancos abrir mais agências ao invés de correspondentes, investir mais em segurança para evitar assaltos e sequestros e, sobretudo, contratar mais funcionários para acabar com as filas e melhorar o atendimento dos clientes. A sociedade brasileira precisa exigir a contrapartida social dos bancos.
Carlos Cordeiro - Economista, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf)
Artur Henrique dos Santos - Presidente nacional da Central Única dos Trabalhdores (CUT)

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