terça-feira, 26 de janeiro de 2010

ELEIÇÕES 2010
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“O cenário para as eleições de
outubro está sendo desenhado”
A professora de Ciência Política da UFMA, Arleth
Borges, analisa perspectivas para as eleições de 2010
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Em período de eleição é comum que os debates sobre a disputa política iniciem o ano a todo vapor e dominem as rodas de conversa de eleitores esperançosos por algo de novo no poder. Apesar das eleições para presidente, governador, senador, deputado federal e estadual acontecerem apenas em outubro, as apostas para os personagens políticos que devem se candidatar já estão lançadas.
Em entrevista exclusiva, a professora de Ciência Política da UFMA, Arleth Borges, avalia o ano eleitoral como bastante competitivo, já que os principais partidos políticos (PT e PSDB) possuem trajetória de conquistas e derrotas marcantes na história da política brasileira.
Confira a entrevista completa abaixo.
ASCOM - Como está o cenário político brasileiro atualmente?
Quais as perspectivas políticas para o ano de eleições?
Arleth - O cenário político é dominado pelo processo eleitoral de outubro, afinal a centralidade das eleições na cena política tem sido fato nos dias atuais: os políticos terminam uma eleição já pensando em como vão se preparar para a próxima e a quase totalidade dos eleitos tem a reeleição como principal objetivo; enfim, o que era pra ser um meio, eleger-se para realizar determinado projeto político e social, converteu-se em finalidade, eleger-se para conquistar um espaço cativo nas esferas de poder - para si ou para alguém de sua confiança, geralmente uma pessoa da família.
O cenário para as eleições de outubro está sendo desenhado, cuidadosamente preparado. Mas ainda estamos a sete meses da eleição e até lá muita coisa ainda vai acontecer.
Por enquanto, o que se esboça é, mais uma vez, a disputa principal protagonizada por PT X PSDB / Dilma Roussef X José Serra; a perspectiva de uma eleição muito competitiva, vez que ambos os candidatos e grupos políticos reúnem trunfos consideráveis; uma intervenção destacada do presidente Lula tanto para “turbinar” a sua candidata (mas não necessariamente o seu partido), como para influenciar disputas locais estratégicas; a centralidade da eleição presidencial em detrimento das outras disputas, principalmente para o legislativo; a lógica e interesses nacionais se impondo sobre grupos e interesses locais, sobretudo onde estes forem fracos ou centrados em lideranças fortemente personalistas.
De modo geral, considero que estes elementos serão importantes no cenário político-eleitoral deste ano.
ASCOM – Como você avalia a possível candidatura de Dilma Roussef à presidência, como estratégia do PT para se manter no poder?
Arleth - O funcionamento das instituições e a incerteza, resultado de que os concorrentes têm reais possibilidades de êxito, é um dos traços mais marcantes do que se tem chamado de amadurecimento da democracia brasileira.
O PT tem grandes chances de continuar à frente da presidência da República (que, diga-se de passagem, não esgota os espaços de poder) por várias razões: o PT é, hoje, o maior partido do Brasil; tem a vantagem de estar no governo e ter seu presidente muitíssimo bem avaliado; tem uma candidata respeitada e o presidente Lula como cabo eleitoral; possui ampla base de aliados; é um partido com experiência e recursos para bem conduzir (tecnicamente falando) uma campanha eleitoral, etc. São trunfos valiosos, que potencializam as chances da candidatura petista, mas, certamente, não a garantem de modo absoluto.
ASCOM – Você acredita que as campanhas eleitorais este ano tenham algum diferencial dos anos anteriores?
Arleth - As campanhas deste ano envolvem várias e diferentes eleições (presidente, senador, deputado federal, deputado estadual e governador), que seguem lógicas bastante distintas. No caso da campanha presidencial, o grande diferencial diz respeito à questão da possível, ou impossível, transferência de votos do presidente Lula para a sua candidata, Dilma Roussef.
Outros diferenciais da campanha de 2010 podem vir com a confirmação de aliança entre PT e PMDB; a candidatura de Marina Silva e, junto com ela, a ênfase (importantíssima) dada à questão ambiental.
Um diferencial muito desejável para este pleito seria a aprovação da emenda popular em prol de candidaturas “ficha limpa”, que pretende impedir a candidatura de políticos “ficha suja”, ou seja, aqueles já condenados por crimes graves (incluindo a compra de votos); que tenham denúncia recebida por um tribunal por crimes de racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas; ou ainda aqueles já eleitos que renunciaram ao cargo eletivo para evitar abertura de processo por quebra de decoro. Tal medida, entretanto, ainda depende de aprovação no Legislativo e acordos quanto aos prazos de vigência.
ASCOM - No Maranhão, as eleições para governador prometem ser acirradas, tendo em vista a cassação do ex-governador Jackson Lago. Como você analisa esta situação?
Arleth - O acirramento tem sido regra em nossas eleições estaduais: em 1994, Roseana venceu Cafeteira em um segundo turno muito apertado, de 50% a 49%; 1998 é a exceção da regra: Roseana venceu Cafeteira em primeiro turno, com 66% dos votos; em 2002, o segundo turno foi atropelado pelo arranjo através do qual a saída de Ricardo Murad do páreo eleitoral possibilitou que José Reinaldo Tavares vencesse Jackson Lago ainda no primeiro turno, com apertados 51% dos votos; em 2006, todo mundo lembra que Roseana teve maioria no 1º turno (47%), Jackson ganhou no segundo turno (51%), mas houve uma espécie de terceiro turno e neste, Roseana recebeu o mandato através do Poder Judiciário.
Em face disso, acirramento não nos surpreende, mas é interessante notar que, no presente caso, há aspectos novos e de efeitos ainda não submetidos “às urnas”, como a cassação de Jackson Lago, a conquista de mandato por Roseana, por via judicial, a presença de novos nomes na disputa ao governo.
Tudo isso gera motivações no eleitorado que ainda não sabemos como vão se desdobrar em termos de voto.
ASCOM - De que forma os candidatos podem inovar nas campanhas sem utilizar do ataque ao adversário?
Arleth - Há que saber se eles estarão interessados, ou em condições de optar por isso. Em toda eleição, os candidatos estabelecem um diálogo com os eleitores (o grande alvo da propaganda e do esforço de convencimento), mas também travam um debate com os outros candidatos.
No caso das eleições majoritárias, onde só há um eleito (incluindo, neste ano, a do senado), esta disputa tende a ser mais acirrada e a campanha mais individualizada, mais competitiva e desafiante.
A dinâmica da campanha, o perfil dos candidatos e a tolerância, ou não, do eleitor quanto a este tipo de estratégia é que vão dar a e a forma medida do enfrentamento.
PERFIL DA ENTREVISTADA
Arleth Santos Borges possui Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA (1988), Mestrado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (1998) e Doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro - IUPERJ (2005).
Professora Adjunta do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da UFMA, onde trabalha desde 1991 e desenvolve pesquisas relacionadas aos seguintes temas: Poder Legislativo; Conexão Eleitoral; Representação, Partidos e Eleições no Maranhão; Comportamento Político e Direitos Humanos.
Lugar: UFMA/ASCOM

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