domingo, 21 de fevereiro de 2010

Bradesco e Itaú: salários e bônus
superaram R$ 500 milhões em 2008
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O Itaú não especificou quantos funcionários repartiram os R$ 272,7 milhões. Os números fazem parte das demonstrações financeiras divulgadas pelas duas instituições naquele ano.
O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região fez um levantamento com base nos balanços dos dois bancos relativos ao terceiro trimestre de 2009.
Segundo técnicos da entidade, o Bradesco havia pago, entre janeiro e setembro daquele ano, R$ 326 milhões e o Itaú Unibanco, R$ 215,6 milhões.
A remuneração dos executivos do setor financeiro é o alvo de uma nova legislação proposta pelo Banco Central (BC). Segunda-feira, a autoridade monetária abriu para audiência pública uma minuta que estabelece "critérios para a política de remuneração de administradores e empregados das instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central".
A audiência ficará aberta por 90 dias.O objetivo do BC é evitar que executivos do setor sejam estimulados a assumir riscos excessivos, o que pode ameaçar a saúde das instituições financeiras, como ocorreu em vários países desenvolvidos entre 2007 e 2009. Foi a quebra de um banco de investimentos americano (Lehman Brothers), em setembro de 2008, que detonou a piora da crise internacional.
Ao lançar a minuta, o BC informou que a proposta de regulação "baseia-se nos compromissos assumidos pelos líderes do G-20 em abril (Londres) e setembro (Pittsburgh) de 2009".
O Estado apurou que profissionais da área financeira receberam a proposta do BC com surpresa. Houve quem argumentasse que, no Brasil, as regras do setor são mais rígidas do que no exterior.
Outros lembraram que nenhum banco no País teve uma atuação que colocasse em risco o sistema. Um ex-presidente do BC, por exemplo, avaliou que alguém dentro do banco "está caçando fantasmas".
De outro lado, algumas fontes afirmaram que a legislação faz sentido também no Brasil. Lembraram do caso dos derivativos tóxicos, que veio à tona no auge da crise global, em outubro de 2008. Naquela época, empresas como a Aracruz e a Sadia admitiram, em público, que haviam feito operações nos mercados futuros (principalmente de câmbio) que resultaram em prejuízos bilionários. Os problemas não foram restritos a companhias de grande porte. Pequenas e médias empresas fizeram apostas semelhantes, estimuladas por bancos. Profissionais que vendiam essas soluções ganhavam bônus."A transparência sobre a remuneração de executivos é um caminho sem volta", disse o advogado Gustavo Grebler, professor da pós-graduação da Fundação Getulio Vargas em Finanças Aplicada ao Direito.
"O bom administrador vai se beneficiar da política do BC."O presidente do Sindicato dos Bancários, Luiz Cláudio Marcolino, também defendeu a nova legislação. "É importante a criação de um Comitê de Remuneração nos bancos (como prevê a minuta do BC) porque os ganhos dos executivos impactam os resultados das empresas e, por tabela, os salários dos trabalhadores", afirmou. Como comparação, Marcolino disse que os bancos pagaram em 2009 R$ 3 bilhões em Participação nos Lucros e Resultados (PLR) a 450 mil bancários.
O ex-presidente do BC Gustavo Franco avalia que "é sempre bom trazer para casa as normas internacionais". Mas pondera que a remuneração dos executivos "não é um problema no Brasil".
"Aqui, todas as instituições têm a figura do controlador, ao contrário dos Estados Unidos", disse. Além disso, pondera, a legislação brasileira define que os bens pessoais dos administradores devem ficar disponíveis em casos de quebra de um banco.
"Nos EUA, isso só ocorre se houver fraude." Em resumo, Franco acredita que a ideia não é adequada ao País.FEBRABANEm nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que "as políticas de remuneração dos bancos brasileiros são, no geral, mais conservadoras do que em outros países". Além disso, a entidade observou que, "no caso brasileiro, os reguladores estão à frente no trato das questões prudenciais, não apenas pelo histórico da economia brasileira, mas também pelo entendimento da importância de se ter um sistema financeiro saudável".
A entidade termina a nota dizendo que "as áreas competentes já iniciaram o estudo e a análise da proposta de resolução do BC, para que a entidade e seus associados participem ativamente da audiência pública, colaborando com a autoridade monetária".

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