ENTREVISTA
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Ramon Cardona
Por Ney Sá
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O cubano Ramón Cardona, secretário da Federação Sindical Mundial (FSM) e representante da entidade para a América, falou com exclusividade ao jornal O Bancário sobre a organização sindical internacional frente à crise mundial.
O cubano Ramón Cardona, secretário da Federação Sindical Mundial (FSM) e representante da entidade para a América, falou com exclusividade ao jornal O Bancário sobre a organização sindical internacional frente à crise mundial.
“A situação é grave para toda a humanidade. Trata-se de uma crise que não é apenas econômica, mas social, ambiental, política e do próprio capitalismo”, afirma Cardona.
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O Bancário: Como a Federação Mundial vê o trabalho desenvolvido pela CTB?
RC: A CTB é a maior central filiada à nossa Federação de toda a América. Só por isso a central já merece destaque, além disso – e o que é mais importante -, a CTB reflete os fundamentos e princípios defendidos pela Federação Mundial, que se alinham com a luta classista, sempre em defesa dos trabalhadores e pelo avanço das conquistas sociais.
O Bancário: Quanto à crise internacional, qual é a avaliação da FSM?
RC: As causas e reflexos da crise financeira mundial são por demais conhecidas por todos. Em todo o mundo o assunto é destaque na imprensa desde o ano passado. Um aspecto, porém, que tem chamado a atenção é o tratamento dado aos altos executivos do sistema financeiro, que apesar de responsáveis diretos pela crise, receberam bônus salariais escandalosos por seus serviços.
O Bancário: Quer dizer que além de contribuírem para a crise mundial, por conta da especulação financeira, gerando desemprego e danos sociais irreparáveis, ainda ganham mais por isso?
RC: Lamentavelmente é o que acontece hoje no principal centro financeiro do mundo: os Estados Unidos. Lá os salários dos executivos do sistema financeiro já são 379 vezes mais altos do que o salário médio dos bancários. O pior é que as gratificações e os bônus são pagos aos altos executivos com dinheiro público, com os R$ 50 bilhões que o governo norte-americano injetou na economia para salvar os bancos. Enquanto isso, 50 mil crianças morrem de fome hoje no mundo.
O Bancário: E quanto aos efeitos da crise na economia para 2010?
RC: Provavelmente, no ano que vem, vamos viver uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) na maioria dos países. Ninguém sabe ainda quando a crise vai se resolver. Mas o Brasil é um caso distinto. Em 2010 os brasileiros vão experimentar crescimento econômico. Mas isso não significa necessariamente melhoria social, porque depende de como o governo vai tratar as políticas públicas.
O Bancário: Que papel joga o movimento sindical nesse contexto?
RC: Precisa continuar pressionando pelos avanços sociais, porque o modelo atual não tem resposta para os trabalhadores. Pelo contrário, estão criminalizando o movimento sindical, desrespeitam a vida e simplesmente eliminam as lideranças, como tem acontecido como o MST.
Hoje vemos duas tendências claras do movimento sindical internacional, de um lado estão os que negociam com as instâncias criadas pelo capital, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial, buscando soluções de parceria para a crise. Do outro estão aqueles que, como a FSM, entendem que não se pode negociar com essas instituições, que participaram da criação da crise.
O Bancário: Qual a proposta da FSM para a superação da crise?
RC: A Federação defende que a resposta para a crise precisa de outro modelo de centralidade focado no ser humano e não no capital, com mais distribuição de riqueza, contra a barbárie que está instalada hoje. E tudo isso se resume no socialismo.
O Bancário: E o que está sendo feito nesse sentido?
RC: A solução na América é a integração dos povos. Não somente comercial e econômica, mas colocando o aspecto social e político no centro das ações. Como exemplo prático, podemos citar o encontro da Aliança Bolivariana (Alba), em outubro próximo, na Bolívia, em Cochabamba, quando será criado o Conselho Social da Alba. (SeebBA)
RC: A CTB é a maior central filiada à nossa Federação de toda a América. Só por isso a central já merece destaque, além disso – e o que é mais importante -, a CTB reflete os fundamentos e princípios defendidos pela Federação Mundial, que se alinham com a luta classista, sempre em defesa dos trabalhadores e pelo avanço das conquistas sociais.
O Bancário: Quanto à crise internacional, qual é a avaliação da FSM?
RC: As causas e reflexos da crise financeira mundial são por demais conhecidas por todos. Em todo o mundo o assunto é destaque na imprensa desde o ano passado. Um aspecto, porém, que tem chamado a atenção é o tratamento dado aos altos executivos do sistema financeiro, que apesar de responsáveis diretos pela crise, receberam bônus salariais escandalosos por seus serviços.
O Bancário: Quer dizer que além de contribuírem para a crise mundial, por conta da especulação financeira, gerando desemprego e danos sociais irreparáveis, ainda ganham mais por isso?
RC: Lamentavelmente é o que acontece hoje no principal centro financeiro do mundo: os Estados Unidos. Lá os salários dos executivos do sistema financeiro já são 379 vezes mais altos do que o salário médio dos bancários. O pior é que as gratificações e os bônus são pagos aos altos executivos com dinheiro público, com os R$ 50 bilhões que o governo norte-americano injetou na economia para salvar os bancos. Enquanto isso, 50 mil crianças morrem de fome hoje no mundo.
O Bancário: E quanto aos efeitos da crise na economia para 2010?
RC: Provavelmente, no ano que vem, vamos viver uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) na maioria dos países. Ninguém sabe ainda quando a crise vai se resolver. Mas o Brasil é um caso distinto. Em 2010 os brasileiros vão experimentar crescimento econômico. Mas isso não significa necessariamente melhoria social, porque depende de como o governo vai tratar as políticas públicas.
O Bancário: Que papel joga o movimento sindical nesse contexto?
RC: Precisa continuar pressionando pelos avanços sociais, porque o modelo atual não tem resposta para os trabalhadores. Pelo contrário, estão criminalizando o movimento sindical, desrespeitam a vida e simplesmente eliminam as lideranças, como tem acontecido como o MST.
Hoje vemos duas tendências claras do movimento sindical internacional, de um lado estão os que negociam com as instâncias criadas pelo capital, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial, buscando soluções de parceria para a crise. Do outro estão aqueles que, como a FSM, entendem que não se pode negociar com essas instituições, que participaram da criação da crise.
O Bancário: Qual a proposta da FSM para a superação da crise?
RC: A Federação defende que a resposta para a crise precisa de outro modelo de centralidade focado no ser humano e não no capital, com mais distribuição de riqueza, contra a barbárie que está instalada hoje. E tudo isso se resume no socialismo.
O Bancário: E o que está sendo feito nesse sentido?
RC: A solução na América é a integração dos povos. Não somente comercial e econômica, mas colocando o aspecto social e político no centro das ações. Como exemplo prático, podemos citar o encontro da Aliança Bolivariana (Alba), em outubro próximo, na Bolívia, em Cochabamba, quando será criado o Conselho Social da Alba. (SeebBA)
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Vale a pena ler de novo
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Artigo
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Primavera Bancária
Graça Gomes*
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Nada é pior do que o silêncio do banqueiro, entre reuniões e reuniões, que oferece apenas 4,5%. Nada é pior para os bancários do que sentirem-se como borboletas espremidas entre o casulo e a vontade de voar, ver a força de trabalho reconhecida e qualidade de vida mais intensa.
Nada é pior do que saber que milhares de crianças ainda morrem de fome em pleno século XXI, enquanto os banqueiros lucram, apenas em um semestre, R$ 14 bilhões. Nada é pior do que ver a primavera chegar, tendo o reajuste discutido como se fosse um jogo de cartas, dando lugar a negociações mórbidas, enquanto é exigido da categoria bater metas inatingíveis.
Nada é pior do que o engano de viver com roupa de gerente e bolso de servente, empréstimos, cheques especiais para poder manter-se, erguer-se, seguir em frente e, ao mesmo tempo, ter os olhos arregalados, sem piscar para qualquer um nem fechar para qualquer medo.
Mas, de repente, o acordar acontece, desamanhece e a categoria desadormece e todos juntos gritam “além das flores que a natureza nos dá sem nada em troca pedir, queremos reajuste vendo nosso piso salarial subir”.
*Graça Gomes é diretora do Sindicato dos Bancários da Bahia
Nada é pior do que saber que milhares de crianças ainda morrem de fome em pleno século XXI, enquanto os banqueiros lucram, apenas em um semestre, R$ 14 bilhões. Nada é pior do que ver a primavera chegar, tendo o reajuste discutido como se fosse um jogo de cartas, dando lugar a negociações mórbidas, enquanto é exigido da categoria bater metas inatingíveis.
Nada é pior do que o engano de viver com roupa de gerente e bolso de servente, empréstimos, cheques especiais para poder manter-se, erguer-se, seguir em frente e, ao mesmo tempo, ter os olhos arregalados, sem piscar para qualquer um nem fechar para qualquer medo.
Mas, de repente, o acordar acontece, desamanhece e a categoria desadormece e todos juntos gritam “além das flores que a natureza nos dá sem nada em troca pedir, queremos reajuste vendo nosso piso salarial subir”.
*Graça Gomes é diretora do Sindicato dos Bancários da Bahia





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