sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Artigo
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Linguagem sexista
Patrícia Ramos*
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“Definitivamente, o reconhecimento da igualdade de direitos humanos de homens e mulheres na sua diversidade de condição humana passa também por uma linguagem não sexista. Naturalmente, ela só acontece quando igualmente se modifica a prática das pessoas que decidem incluir em suas vidas a: ‘aprendizagem permanente da partilha do poder, do saber, do prazer e do bem querer entre homens e mulheres convivendo em sociedades que se fundamentam na igualdade, equidade e reciprocidade’. Porque A=O”.

Infelizmente, o rio da história da humanidade não seguiu o curso natural da igualdade de direitos humanos, respeitando as diferenças entre homens e mulheres. Ao longo de milênios, a divisão sexual do trabalho e os papéis sociais atribuídos a homens e mulheres fizeram o gênero masculino sobrepor-se ao gênero feminino em relações sociais baseadas no binômio dominação/subordinação.

Nos últimos anos, a presença feminina em funções cada vez mais diferenciadas no mercado de trabalho, na sua política, na administração, entre outros, trouxe a necessidade de traduzir para o vocabulário o que vem sendo vivido.

Como o eixo cultural que fazia do homem o núcleo das relações familiares, profissionais, comerciais e intelectuais foi deslocado, o desempenho da mulher no novo status que adquiriu trouxe outras exigências, que incluem mudanças profundas em relação ao que aprendemos tradicionalmente na educação discriminatória recebida na família e na escola, tanto no conteúdo como na linguagem.

Como conseqüência, emergiu a necessidade de revisar a linguagem em suas diversas formulações, exemplos e imagens que contribuem para perpetuar os estereótipos sexuais.
Afinal, a forma como um povo se expressa através de sua linguagem no sentido amplo da palavra, revela qual é sua visão do mundo, quais são os valores e sentimentos que norteiam a dinâmica de sua organização social e psicológica.

Parece-nos muito natural usarmos formas masculinas, quando o gênero gramatical não é determinado nem conhecido. Essa é uma forma de reprodução ideológica de uma cultura machista e de dominação, que durante anos aprisionou muitas mulheres (algumas ainda podem ser consideradas prisioneiras nos dias de hoje).

Com base na concepção de que o discurso deve se transformar e acompanhar os avanços da sociedade; a reflexão e mudança sobre a linguagem sexista, se faz importante e necessária.

A história tem grande influência no fato de generalizarmos no masculino quase todas as situações. Porém, a história não é estática. O foco aqui são as conseqüências sociais e de gênero ocasionadas pelo uso da linguagem sexista, a qual não provoca a inferiorização, mas a invisibilidade das mulheres e sua rejeição, o que é pior.

Não há como dissociar o uso da linguagem sexista da reprodução ideológica da sociedade.
Para a promoção da equidade de gênero, mudar a linguagem sexista significa aceitar o desafio de romper com sistemas e práticas sexistas, para criar uma nova consciência e novas atitudes e formas da relação entre mulheres e homens.

Analisar as posturas socialmente estabelecidas e valorizadas – tida como naturais de cada sexo – e, refletir sobre elas, propondo a necessária mudança social, é contribuir para a equidade de gênero.
*equidade é tratar diferente o diferente.
É a disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um.
*Patrícia Ramos é diretora do Sindicato dos Bancários da Bahia

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